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Técnica do Exercício Peso Morto (Dead Lift)

ODead Lift4 Peso Morto ou, Dead Lift, é um exercício composto, multiarticular, que serve para fortalecer os músculos Glúteo Máximo, Isquiotibiais e Quadricípites. A correta execução do mesmo, irá ditar os potenciais ganhos de força, tamanho e tónus muscular dos músculos envolvidos. Assim, torna-se necessário conhecer os pontos fundamentais na execução do Peso Morto. São eles:

POSIÇÃO INICIAL:Dead Lift2

  • Barra no chão contra as canelas
  • Pés à largura dos ombros e anca acima do nível dos joelhos
  • Pega alternada ou pronada ligeiramente afastada da largura dos ombros
  • Braços completamente estendidos

FASE ASCENDENTE:Dead Lift3

  • Peito para fora
  • Braços estendidos
  • Joelhos e anca em extensão
  • Barra acima dos joelhos e tronco estendido

FASE DESCENDENTE:Dead Lift

  • Peito para fora
  • Braços estendidos
  • Joelhos e anca em flexão
  • Barra abaixo dos joelhos e tronco estendido

ERROS COMUNS

  • Arredondar os ombros e as costas (rotação interna do úmero)
  • Flexionar os cotovelos ou puxar com os braços
  • Estender o tronco antes da anca e dos joelhos
  • Elevar a anca mais rápido que a barra

PONTOS CHAVE:

  • Pega alternada ou pronada
  • Coluna vertebral neutra
  • Estender a anca e os joelhos antes do tronco

Treine de forma consciente e não tenha medo de utilizar este exercício, se for bem executado, irá conseguir enúmeros benefícios.

Bons treinos 😉

Personal Training

  12107207_1666603680285623_1876286802373901752_nNa atual conjectura nacional, a grande maioria das pessoas acha desnecessário ter um Personal Trainer, porque pensam que treinar é como mudar de meias, é só chegar ao gavetão, escolher um par e calçá-las! Felizmente, ainda existem pessoas que acreditam na necessidade de recorrer a profissionais como eu, felizmente, para elas! Penso que a minha profissão deveria ser regulamentada e inserida no sistema nacional de saúde, para que mais pessoas pudessem ter acesso aos nossos serviços. Isto porque, é um serviço caro, e a grande maioria das pessoas que realmente necessitam dos serviços de um PT não os podem adquirir! Recorrer aos serviços de um PT não deveria ser um luxo, mas sim, uma necessidade. Se for uma pessoa com necessidade de recorrer aos serviços de um PT, não hesite em contatar-me, certamente encontraremos uma solução para si.

‪#‎PT#PersonalTrainer#Fitness#fitnessphysique#fit#Saúde#Treino#NoBrainNoGain#TreinoInteligente 

Bem-Vindo ao mundo encantado!

12079077_1664457393833585_1247868567220591138_nOntem, quando estava a ver o feed no instagram, deparei-me com uma situação que me deixou um bocado aborrecido! Verifiquei qu
e já existem workshops de “instafood”!! Ou seja, workshops que ensinam pessoas a “maquiar” a comida, para que ela pareça mais apelativa nas contas de instagram de blogueiras(os) fitness (sem formação). Podemos ainda verificar, nas contas dessas(es) blogueiras(os) fitness, publicações de vídeos demonstrativos de exercícios, a maior parte deles, incorretos para o que se pretende e prescritos por outrém; imagens de corpos trabalhados, mas cheias de photoshop ou filtros do instagram; formação de Team’s “Gracyannes” com venda de outfits, planeamentos alimentares por email, etc.

Objetivo destas pessoas? Tornar a sua conta de Instagram mais apelativa, ganhar mais seguidores e, acima de tudo, ganhar dinheiro, pois está claro!

Até aqui, tudo bem, é normal que as pessoas procurem ganhar mais dinheiro, mas a que custo? A ludibriar, eludir, enganar o resto do povo!? Que formação têm essas(es) blogueiras(os) fitness para influenciar pessoas a treinar bem e a alimentarem-se bem? Mas mais uma vez, até aqui tudo bem (quase), essas(es) blogueiras(os) estão no direito delas(es) de o fazer, não censuro (é porque não).

Vocês, que os seguem, já pararam para pensar? Para que é que existem Personal Trainers, Professores de Educação Física, Nutricionistas, Fisioterapeutas, Médicos, etc? Vocês seguem pessoas sem formação, QUE NÃO SABEM o que estão a fazer, e gastam rios de dinheiro em suplementos, anabolizantes, roupas fit, da team não sei das quantas, para não terem saúde? Depois, quando ouvem ou sabem os preços de uma sessão de PT ou de uma consulta de Nutrição, dizem que é caro. Está certo!
Enfim, estamos numa sociedade em que as pessoas dão cada vez mais valor a bundas e peitos grandes e troncos musculados, do que a cérebros funcionais.
No entanto, se quiserem gastar dinheiro, sem terem benefício algum, depositem na minha conta…eu aproveito e vou tirar as formações que pretendo e preciso, para vos continuar a dar aquilo que essas(es) blogueiras(os) não vos dão, saúde e anos de vida.
Boa sorte para quem segue essas(es) blogueiras(os) fitness, pode ser que não tenham nenhuma lesão ou distúrbio alimentar.

P.S. Eu também publico fotos do meu corpo trabalhado, mas não uso filtros nem photoshop, é aquilo mesmo que vêm, mais ou menos apelativo para quem olha, mas é real, sem bomba, sem suplementos, só com treino e muita dedicação.

‪#‎TreinoInteligente#NoBrainNoGain#BeSmart#PT#Nutricionistas#Fisioterapeutas#Médicos#MundoEncantado

Já parou para agendar?

Já alguma vez se questionou, para que é que servem as agendas!? Pois é, para agendar algo!! 11063777_1661545194124805_8842539585059503108_o
Então, você que diz que não tem tempo para fazer exercício físico, porque é que não começa por agendar a sua vida!? Já alguma vez experimentou fazê-lo? Comece por agendar as suas refeições (sem elas não vive!); depois o seu horário de trabalho; as suas tarefas domésticas (arrumar a casa, dar banho ao cão, levar e buscar os miúdos à escola…); o tempo para dormir; e, por último, agende um tempo para si (namorar, ir ao futebol, ir ao cabeleireiro, estar com os amigos, etc…). Depois de feito este exercício, de certeza que já conseguiu perceber porque é que não gosta muito de agendas certo? Pois é, acabou de descobrir que já não tem uma desculpa para não fazer exercício físico!
Agende a sua vida, o tempo é o bem mais precioso que temos, por isso, aproveite-o bem, aproveite para cuidar da sua saúde, porque sem ela, não vai ter tempo para usufruir das coisas boas da vida.
Organize-se, bons treinos 😉

Exercício Físico: Moda ou Necessidade?

  11390289_1618450588434266_805711043051684576_nAtualmente, se procurarmos no google pelas palavras Exercício Físico, conseguimos um total de 718000 resultados. Neste total, encontramos exercícios para perder peso, ganhar massa muscular, para melhorar a saúde de uma forma geral, para treinar atletas, etc. Se estivermos atentos, cada vez mais, as pessoas publicam nas redes sociais eventos desportivos dos quais participaram, participam ou vão participar. Meias Maratonas, eventos de crossfit, prática de ginásio, exercício ao ar livre, etc. Mas, será este “boom” desportivo, motivo de orgulho para a nossa cultura ou motivo de preocupação?

  A meu ver, e apesar de cada vez mais, existirem pessoas a praticar exercício físico, parece-me um motivo de preocupação. Mas preocupação porquê!? De preocupação porque, a grande maioria das pessoas vai para os ginásios, parques da cidade, eventos, etc, para tirar as famosas selfies, fotos em grupo e treinar, nada! E quando “treinam”, não treinam! Deste modo, será que houve mesmo um aumento significativo na prática de exercício físico pela nossa população? Será que as pessoas que “treinam” ou dizem que treinam, treinam mesmo!? A mim parece-me que o exercício físico virou moda e um dia (Deus queira que não!) vai passar de moda.

  Estamos em pleno século XXI e o que a OMS verifica cada vez mais, é um crescente aumento da Obesidade e as suas comorbidades associadas, como a Diabetes Tipo II, Hipertensão, Dislipidemia, etc. Então, se cada vez mais, existem pessoas a praticar exercício físico, porque é que esta epidemia se alastra cada vez mais!?

  A resposta é simples: as pessoas são mal orientadas! As pessoas continuam agarradas a estigmas antigos e a argumentos capitalistas, de consumo, que deturpam um dos maiores propósitos da vida, viver com saúde! Será que a imagem vale mais que a inteligência? Que o conhecimento científico?

  Será que é coerente, o caro leitor, seguir as dicas de exercício de um indivíduo, só porque ele(a) é famoso(a) no instagram ou no facebook, por este(a) estar associado(a) a caras famosas? Ou porque essa pessoa tem um corpo “xpto”? Ou de um médico, só porque ele é médico (com todo o respeito que esta classe merece, porque dela dependemos muito!)?

  Ora pensemos juntos: em toda a nossa vida, até ao momento, compare as vezes que você já foi ao médico tratar da sua saúde e quantas vezes você já foi ao ginásio tratar dela. Partindo do pressuposto que o caro leitor está bem de saúde, se você for ao ginásio, que seja, uma vez por semana, ao fim do ano vai ao ginásio cerca de 48 vezes. Se dobrarmos a frequência semanal, ao fim do ano irá 96 vezes ao ginásio (o que não é muito!). Por outro lado, se o leitor for ao médico, uma ou duas vezes num ano, ou mesmo que vá de 3 em 3 meses, ao fim do ano vai ao médico 4 vezes! Ou seja, você vai ao ginásio com uma frequência 24 vezes superior, às vezes que vai ao médico (e quando lá vai, não é para tratar da sua saúde mas sim, de uma possível doença)!

  Portanto, a sua saúde depende muito mais das boas indicações de um bom profissional do exercício (regra geral, uma pessoa licenciada) do que das boas indicações de um bom médico, quanto mais, das indicações de uma figura famosa de instagram ou facebook, só porque essa pessoa treina indivíduos famosos e nem tem formação na área. Pois é, parece que a área em que trabalho virou moda e não carece de indivíduos bem preparados académicamente e, qualquer um, pode e dá treinos, sejam eles quais forem, ao comum dos mortais. Mas o mais grave, parece-me, é o valor e a permissão que o comum dos mortais dá a esses indivíduos, que não são formados na área do exercício físico.

  Caro leitor, se você sentir uma dor forte no estômago, vai falar com o vizinho do lado que lê e sabe umas coisas de gastroenterologia, ou vai a um médico?

  A área do exercício físico, na qual trabalho e pela qual sou apaixonado, é uma área séria e com a qual você mais interage, por isso, penso que ela deveria ser mais respeitada, bem como os seus Profissionais. Dê valor às pessoas que realmente sabem o que estão a fazer e não se deixe enganar por estratégias de marketing bem conseguidas, por pessoas sem formação.

  E quando forem treinar, procurem ajuda de Profissionais e treinem mesmo, não tirem selfies e fotos de grupo (quem sabe, no final do treino!) só para dizerem que são saudáveis. O Exercício Físico é assunto sério e não é uma moda…é uma necessidade.

  Bons treinos 😉

Lunges: Dicas para Hipertrofia

11535934_1617949935150998_3652497011651211070_nNos Ginásios e Health Clubs, vejo muitas vezes, e erradamente, pessoas a utilizar os lunges dinâmicos e em instabilidade para, supostamente, aumentarem o tamanho dos seus músculos e, também, para ganharem força. Assim, ficam aqui algumas dicas para atingirem esses objetivos de forma segura e eficaz, utilizando os Lunges como estratégia:

1) Deixe sempre a anca por debaixo da barra, mantendo um ângulo de 90 graus entre o seu tronco e o solo;


2) Concentre a força na perna da frente e evite colocar o peso do corpo sobre a perna de trás, pois isso alivia a tensão na perna alvo, a da frente;


3) Coloque um step sob o pé da frente, de modo a aumentar a amplitude de movimento e conseguir melhores resultados, mas sem exagerar na altura do step, pois os pés muito altos causam muita instabilidade prejudicando a eficiência da estratégia;


4) Faça uma perna de cada vez, de modo que se mantenha o stress metabólico e o tempo sob tensão. Schott et al. (1995) verificaram que intervalos de 2 segundos entre as contrações prejudicou os ganhos de força e massa muscular;


5) Trabalhe em superfícies estáveis: Cressey et al. (2007) verificaram que realizar lunges sobre discos de equilíbrio prejudicaram os resultados, em comparação com o exercício sobre o solo.


Bons treinos 😉

Referências:

Cressey EM, West CA, Tiberio DP, Kraemer WJ, Maresh CM. The effects of ten weeks of lower-body unstable surface training on markers of athletic performance. J Strength Cond Res. 2007 May;21(2):561-7.

Schott J, McCully K, Rutherford OM. The role of metabolites in strength training. II. Short versus long isometric contractions. Eur J Appl Physiol Occup Physiol. 1995;71(4):337-41.

Exercícios para glúteos com caneleiras e na polia – Serão eficazes?

  Com o intuito de aumentarem o tamanho dos seus glúteos, muitas mulheres, e alguns homens, recorrem a exercícios popularizados como os mais eficazes ou específicos, para o treino desta musculatura, como por exemplo, glúteos com caneleiras, abdutores com caneleiras, elevação da pélvis, glúteo na polia, abdutores na polia, etc.

  Mas, será que estes exercícios são os mais indicados para o treino e hipertrofia da região glútea? Serão eficazes ou perda de tempo ?

  Na realidade, não são de todo eficazes, muito menos, em comparação com outros exercícios como o agachamento, leg press, lunge e peso morto. E não são eficazes, pelo simples facto de não trabalharem no máximo de amplitude da articulação coxo-femural, pois, este é um dos princípios mais importantes do treino de força, a amplitude de movimento. Ou seja, não trabalham esta região em pré-alongamento, não levando a um alongamento irregular dos sarcómeros, de modo a aumentar o dano muscular, um dos 3 fatores que originam respostas hipertróficas. Segundo Gentil (2010), os estudos de FRIDEN et al (1988), McCULLY et al (1986) e ARMSTRONG et al (1991), sugerem que a contração dos músculos a partir da posição alongada causa alongamento irregular dos sarcômeros, aumentando o potencial de ocorrência das microlesões, que consistem na base de um dos modelos de hipertrofia mais conhecidos.

Artigo2
Figura Nº 1 – Glúteo com caneleiras

  Por exemplo, como podemos verificar nas imagens, o ideal neste exercício com caneleiras, seria começar o exercício com a coxa (fêmur) na posição que apresenta a imagem C, no entanto, esta posição não é eficaz nesta opção, neste exercício, porque a gravidade anula a força muscular, até a coxa estar na vertical (paralela ao vetor de gravidade, que é um vetor que se direciona para baixo, na vertical) e, por isso, o exercício perde amplitude se este for iniciado com a coxa na posição apresentada na imagem A. O mesmo acontece, se este exercício for realizado sempre com a perna estendida, pois o pé bate no chão (imagem B, traço laranja), diminuindo ainda mais a amplitude de movimento, ou seja, impede que o joelho se aproxime do peito, o que é necessário para que a amplitude de movimento coxo-femural seja total.

Figura Nº 2 – Extensão da anca na polia

  Isto também acontece nos exercícios realizados na polia. Se o leitor verificar na Figura Nº 2, os traços a azul, pode verificar que o ângulo de trabalho da articulação coxo-femural é bastante reduzido (cerca de 45º). Mesmo que o executante leve a perna mais à frente (traço amarelo), o ângulo de trabalho continua a ser muito reduzido (menos de 90º)! O ideal seria que o executante levasse a coxa até bem perto do peito (traço verde) para que a amplitude de movimento fosse a maior possível e, assim, recrutar o maior número possível de unidades motoras e, consequentemente, o maior número de fibras musculares. Porém, isso não é possível porque se o executante levar a coxa até perto do joelho, acontecem 3 coisas pouco favoráveis ao exercício:

  1) O executante bate com a ponta do pé na parte do cabo próxima ao pé; 2) O peso bate na base e o exercício perde resistência, quer na fase excêntrica, quer na concêntrica, até a coxa ficar na posição do traço amarelo; 3) Se o executante levar a coxa perto do peito, teria de flectir o joelho para conseguir fazê-lo e, os músculos a serem solicitados concentricamente, passam a ser os flexores da anca, como o Psoas-Elíaco, e não o glúteo.

Sem Título
Figura Nº 3 – Extensão da anca na polia em 3 apoios

  Ou seja, a própria máquina (polia) oferece limitações aos executantes neste tipo de exercícios para os glúteos.

  Todavia, existem variações como a apresentada na Figura Nº 3, que, em termos de amplitude são aceitáveis mas, em termos de equilíbrio não, como também acontece nos exercícios anteriormente aqui apresentados. E não, porque a instabilidade prejudica a produção de força do glúteo (como qualquer outro grupo muscular, excepto os abdominais), que é o grupo muscular alvo, neste exercício. Como refere Schoenfeld (2010), os exercícios de resistência realizados em superfícies instáveis, requerem uma ativação extensa da musculatura central para suportar a performance. Isto, por sua vez, resulta em reduções significativas na produção de força para os motores musculares principais, como mostraram McBride et al. (2006), que verificaram reduções significativas na força máxima e na taxa de desenvolvimento de força (45,6 e 40,5%, respetivamente) durante a realização de um agachamento numa superfície instável, em comparação com o mesmo exercício numa superfície estável. Segundo este autor, essas grandes reduções na produção de força, diminuem a tensão dinâmica para os músculos alvo, mitigando a resposta hipertrófica.

  Deste modo, se estes exercícios apresentam tantas limitações, para quê continuar a perder tempo a realizá-los!? Porque não, optar por aqueles exercícios que realmente são eficazes no que respeita ao treino (e à hipertrofia) da região glútea? Afinal de contas, se o(a) leitor(a) realiza exercícios para os glúteos é porque os quer desenvolver certo?

  Não perca tempo, treine com inteligência, fale com um Profissional do Exercício que o(a) ajude.

  Bons treinos 😉

Referências:

Gentil, Paulo. Problemas de joelhos em mulheres – Causas e recomendações. GEASE. 2010

Gentil, Paulo. Amplitude – A qualidade esquecida. GEASE. 2002

Gentil, Paulo. Exercícios para glúteos. GEASE. 2012

Brad J Schoenfeld. The Mechanisms of Muscle Hypertrophy and Their Application to Resistance Training. Journal of Strenght and Conditioning Research (2010); 24, 10; pág. 2864-2865

Exercícios Para Pernas e Glúteos Em Mulheres

  Todos os dias chegam aos ginásios e health clubs, mulheres que têm como objetivo trabalhar a parte inferior do tronco, mais concretamente, coxas e glúteos. Na tentativa de conseguirem melhorar o tónus muscular e a aparência dessas partes corporais, as mulheres, por iniciativa própria, depois de terem visto na internet dicas de blogueiras(os) ou pela sujestão de professores mal informados, sujeitam-se a treinos de pernas e glúteos, duas, três vezes por semana e até mesmo todos os dias da semana, utilizando, muitas vezes, exercícios monoarticulares (glúteo com caneleiras, elevação da pélvis, etc) com pouca carga e muitas repetições (às vezes acima de 30), já para não falar da utilização de variações de exercícios completamente ridículos do ponto de vista biomecânico e prático. Mas, será que estas estratégias são corretas do ponto de vista da eficácia do treino? Não!

  Em primeiro lugar, importa destacar que existem diferenças estruturais e fisiológicas entre Homens e Mulheres, que interferem na planificação e periodização dos treinos para membros inferiores e glúteos. Segundo Gentil (2010), essas diferenças são:

1. Anatomia: a anca das mulheres é normalmente mais larga que a dos homens o que leva a um aumento do ângulo Q, tornando mais comum o geno valgo nas mulheres. Isso faz com que a patela tenha uma tendência a sair lateralmente, aumentando a incidência de desgaste na patela, o que promove maior desgaste das cartilagens, causando problemas como a condromalácia.

2. Hormonas: Concentrações elevadas de hormonas femininas podem ter repercussões negativas na saúde dos tendões, conforme comprovam estudos de pesquisadores dinamarqueses (Hansen et al., 2008; 2009). Segundo eles, as altas concentrações de estrogênio, inibem a síntese de colágeno no tendão patelar.

3. Ativação muscular: As mulheres em geral têm maior dificuldade de ativar a musculatura posterior da coxa. Em determinados exercícios, a relação entre a ativação dos posteriores relativamente ao quadríceps chega a ser um terço da dos homens! E isso é um alerta importante, pois a ativação da musculatura posterior, diminui a tensão na patela, ou seja, quanto menos se ativa a musculatura posterior, maior a movimentação da tíbia em relação ao fêmur, o que pode dobrar a tensão no ligamento cruzado anterior.

4. Quotidiano: A moda também não ajuda muito! Há mais de 30 anos que se alerta para os problemas que a utilização de saltos altos acarretam na biomecânica da marcha. E recentemente comprovou-se que a utilização de saltos altos promove o encurtamento dos gastrocnêmios, aumentando os momentos de força anteriores nos joelhos (Cronin et al., 2012). Fatores estes, que associados, predispõem a maior sobrecarga patelofemoral.

  Segundo este autor, estas são algumas das causas para a maior incidência de lesões e dores nos joelhos nas mulheres, relativamente aos homens. Pesquisas recentes confirmam esta observação: as mulheres chegam a ter cinco vezes mais rotura do ligamento cruzado anterior, as dores anteriores são 3 vezes mais frequentes em mulheres, a incidência de artrite nos joelhos é mais do dobro em comparação com os homens e 75% das artroplastias acontecem nelas.

  No entanto, surge aqui uma pergunta: o que é que o treino de glúteos tem que ver com as lesões e dores nos joelhos? A resposta é simples: os exercícios que melhor trabalham esta musculatura, são aqueles de cadeia cinética fechada (agachamento, lunge, leg press, etc), realizados na amplitude total do movimento e, por isso, a extensão e flexão dos joelhos está sempre presente! Desta forma, o glúteo trabalha em pré-alongamento, levando a um alongamento irregular dos sarcómeros, aumentando assim o dano muscular, um dos 3 fatores que originam respostas hipertróficas. Segundo Gentil (2010), os estudos de FRIDEN et al (1988), McCULLY et al (1986) e ARMSTRONG et al (1991), sugerem que a contração dos músculos a partir da posição alongada causa alongamento irregular dos sarcômeros, aumentando o potencial de ocorrência das microlesões, que consistem na base de um dos modelos de hipertrofia mais conhecidos. Neste sentido, e segundo este autor, a participação do glúteo máximo no agachamento é maior, quanto maior for a amplitude de movimento. A contribuição do glúteo máximo no agachamento parcial é de 17%, no agachamento até as coxas ficarem paralelas ao solo é de 28% e chega a 35% no agachamento completo, sendo que, neste último caso, o glúteo máximo é o principal músculo envolvido no movimento, à frente, inclusive, dos músculos do quadríceps (Caterisano et al., 2002).

  Ainda segundo Gentil (2012), outro ponto importante é que, durante o agachamento, a musculatura posterior passa a ser mais recrutada quando se utilizam sobrecargas, ou seja, a produção de força é importante (Shields et al., 2005). Inclusive, estudos anteriores verificaram que o aumento de carga no agachamento faz com que haja maior trabalho dos glúteos do que dos extensores de joelho (Flanagan & Salem, 2008; Bryanton et al., 2012). A sugestão é que os músculos do quadríceps seriam totalmente ativados e, para conseguir vencer sobrecargas maiores, os glúteos entrariam em ação.

  Em segundo lugar, o volume de treino não deve ser exagerado e deve-se respeitar o período de recuperação muscular. Este período, compreende um espaço de tempo de 48 a 72 horas após o fim do treino, de modo que as estruturas osteoarticulares sejam completamente recuperadas. Como empiricamente se sabe, é no descanso que o organismo consegue encontrar a sua homeostasia (estado de equilíbrio orgânico) e, desta forma, adaptar-se aos estímulos a que se sujeita no treino. Deste modo, se você, mulher, treinar dia sim, dia não, ou mesmo todos os dias pernas e glúteos, acha que consegue respeitar este período de recuperação!? Já para não falar no aumento da probabilidade de lesões nos joelhos, pelo excesso de uso desta articulação!

  Em terceiro lugar, esqueçam as invenções e variações ridículas que vêm na net ou mesmo no ginásio! Keep it simple! Os exercícios de cadeia cinética fechada, como por exemplo, agachamento, lunge e peso morto, já são extremamente complexos do ponto de vista biomecânico e neuromuscular. Para quê inventar variações destes exercícios, se podem conseguir excelentes resultados com os exercícios “básicos”?? Além disso, se pensarmos no leg press e no agachamento, as variações de rotação e afastamento dos pés não mudam a ativação muscular (Gentil, 2010 cit. Clark et al., 2012; Escamilla et al., 2001). Existem outras variáveis, para além da variação dos exercícios, que influenciam a resposta hipertrófica, como a Velocidade de Execução, o Intervalo de Repouso, a Intensidade e a Falha Muscular (ver os artigos, Variáveis do treino de força vs hipertrofia).

  Em quarto lugar, evitem os exercícios monoarticulares, principalmente, no que se refere ao treino da região glútea. Como já vimos anteriormente, os exercícios que mais ativam esta região, são os poliarticulares, porque permitem trabalhar em maiores amplitudes e com maior sobrecarga. Como refere Gentil (2012), um dos grandes problemas dos exercícios de isolamento para glúteos é a dificuldade de se trabalhar com grandes amplitudes. Por exemplo, durante os exercícios com caneleiras, realizados com o joelho flexionado, o braço de resistência torna-se muito pequeno ao final da fase excêntrica (maior vantagem mecânica). Já quando o trabalho é realizado com o joelho estendido, a musculatura não é adequadamente alongada, pois o pé baterá no solo. Em ambos os casos, a redução da amplitude do movimento prejudica os resultados obtidos no treino, tendo em conta que essa variável é extremamente importante para os ganhos de força e massa muscular (Weiss et al., 2000; Massey et al., 2005; Gentil, 2011). Mesmo no que se refere ao treino da parte anterior da coxa, as mulheres (e até mesmo os homens), devem ter um cuidado adicional na utilização de exercícios monoarticulares como, por exemplo, a cadeira extensora. Ela promove elevados picos de tensão no ligamento cruzado anterior e, também, de compressão patelofemoral (Gentil, 2012 cit. Wilk et al., 1996; Kvist & Gillquist, 2001; Henning et al., 1985), tanto que há quase duas décadas, já existiam autores que não recomendavam a sua utilização (Signorile et al., 1994 cit. por Gentil, 2012). A sugestão será substituí-la pelos exercícios de cadeia cinética fechada, como agachamento e leg press, no entanto, a cadeira extensora poderá ser usada de forma controlada em programas de fortalecimento muscular, em indivíduos com patologias específicas, que não consigam realizar estas alternativas, ou até mesmo, em programas de hipertrofia, desde que devidamente manipuladas as variáveis volume e intensidade.

  Em quinto lugar, treinem com intensidade. Hoje sabe-se que esta é uma das variáveis mais importantes nas respostas hipertróficas e, também, na redução ponderal através da redução da percentagem de massa gorda. A mulher, de uma forma geral, tende a evitar treinar com cargas mais elevadas ou  realizar o típico treino de hipertrofia, pelo simples facto de pensarem que vão ficar masculinizadas. Ora, isso para além de ser falta de conhecimento, é um perfeito disparate, pois advém da visualização de determinadas mulheres (???) excessivamente musculadas e que o conseguiram com recurso a anabolizantes, um deles, a testosterona. Para que saibam, os homens em repouso, têm 10x as concentrações de testosterona das mulheres (Oliveira, 2003, cit. WRIGHT, 1980), o que ajuda a explicar os maiores ganhos de hipertrofia muscular nos homens. Desta forma, e empiricamente, facilmente se percebe que as mulheres, pelo simples facto de utilizarem maiores cargas de treino, não vão ficar como os homens. O nosso organismo funciona em larga escala através da lei do uso e desuso. Se determinadas estruturas musculares são fortemente utilizadas, elas evoluem, crescem, mas se não são utilizadas, elas regridem, diminuem de tamanho. Por isso, se ao fim de um determinado período de treino, achar que está demasiado musculada, é simples…abrande ou pare de treinar como treina!

  Em sexto e último lugar, deixe-se daqueles exercícios da moda, como lunge dinâmico ou passada, agachamentos na bosú ou outras superfícies instáveis, agachamentos com uma perna no TRX, etc. Segundo Schoenfeld (2010), os exercícios de resistência realizados em superfícies instáveis, requerem uma ativação extensa da musculatura central para suportar a performance. Isto, por sua vez, resulta em reduções significativas na produção de força para os motores musculares principais, como mostraram Anderson and Behm (2004), que descobriram que a produção de força durante a execução de um press de peito, numa superfície instável, foi 59,6% menor, quando comparada com uma superfície estável. Também McBride et al. (2006), demonstraram reduções significativas na força máxima e na taxa de desenvolvimento de força (45,6 e 40,5%, respetivamente) durante a realização de um agachamento numa superfície instável, em comparação com o mesmo exercício numa superfície estável. Segundo Schoenfeld (2010), essas grandes reduções na produção de força, diminuem a tensão dinâmica para os músculos alvo, mitigando a resposta hipertrófica. Ora pense comigo: se você realizar um agachamento numa superfície instável, consegue utilizar a mesma carga que utiliza num agachamento numa superfície estável? Consegue exercer força sempre na mesma direção, ou seja, para cima? Não, porque vai ter de se tentar equilibrar e não cair para os lados ou para a frente ou para trás!  A única vantagem do treino em superfícies instáveis, repercute-se na musculatura abdominal (ver artigo, Variáveis do treino de força vs hipertrofia (Parte VI)).

  Portanto, para as mulheres, torna-se imprescindível planear e periodizar os treinos para membros inferiores e glúteos de forma diferente da dos homens, respeitando sempre a individualidade biológica de cada mulher, a experiência de treino, o gosto pessoal, a fase de vida, etc. Cada mulher é diferente das demais, e as repercussões de um determinado tipo de treino numa mulher, são diferentes noutra, quanto mais treiná-las da mesma forma que os homens.

  Seja consciente, procure um profissional do exercício físico competente, treine com inteligência e conquiste o melhor corpo e estado de saúde que poder. Afinal de contas, mesmo que não consiga o corpo com que sempre sonhou, no mínimo, ficará com um corpo melhor que ontem e, acima de tudo, com mais saúde.

  Bons treinos 😉

Referências:

Gentil, Paulo. Problemas de joelhos em mulheres – Causas e recomendações. GEASE. 2010

Gentil, Paulo. Amplitude – A qualidade esquecida. GEASE. 2002

Gentil, Paulo. Exercícios para glúteos. GEASE. 2012

Gentil, Paulo., Oliveira, Elke. Agachamento e Joelho. GEASE. 2012

Oliveira, Elke. Agachamento e Coluna. GEASE. 2003

Oliveira, Elke. Força: mulher vs homem. GEASE. 2003

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